terça-feira, 11 de agosto de 2015

Procura-se a Porto Alegre do Fórum Social Mundial



No sábado, dia 01 de agosto, aconteceu mais um evento promovido pelo coletivo Cais Mauá de Todos, que questiona o atual projeto de revitalização da área do cais. Como há alguns dias foi entregue o EIA-RIMA (Estudo do Impacto Ambiental) pelo consórcio responsável pelo projeto, o coletivo trouxe algumas pessoas que avaliaram o estudo e traçaram alguns comentários pertinentes.

Foram levantadas questões sobre os impactos que a área receberia, do ponto de vista urbanístico e ambiental. Professores, estudiosos e profissionais da área trouxeram informações que devem ser conhecidas da população, antes de aceitar o atual projeto como a única possibilidade de reconectar o espaço do cais – e por consequência o próprio Guaíba – à cidade.

Até porque a reconexão não está prevista no projeto. Com o aumento do fluxo de carros para o local, trazidos pela implantação de um shopping à beira do Guaíba e de, pelo menos, duas torres de 100m (algo como 30 andares), os acessos viários que separam o rio da cidade tendem a ser ampliados.

E o que dizer da praça onde ocorreu o evento da audiência pública, a Brigadeiro Sampaio? Será transformada em canteiro de obras para a construção do shopping, pela proximidade, na área do Armazém A7, que será demolido. Além disso, será construída uma passarela ligando a praça ao shopping, que colocará abaixo muitas árvores e influenciará a própria configuração do local. No sábado, foram marcadas com um laço preto as árvores que serão derrubadas.

Ao longo dos meses em que os participantes do coletivo têm proposto atos e ações, algumas pessoas foram agregando-se ao movimento, cedendo seu tempo e energia para que informações sejam obtidas, para que ilegalidades sejam questionadas e para que pessoas possam expressar suas ideias em relação ao projeto que vai modificar a paisagem da cidade de forma indelével. Mas tenho constatado que a Porto Alegre combativa, a mesma que colocou seu nome no mundo como sede do Fórum Mundial Social, está aparentemente anestesiada.

E o que aconteceu com aqueles que, em 2013, iniciaram as manifestações que foram o estopim de outras pelo Brasil afora, pelo preço da passagem de ônibus? Hoje, o valor que deve ser assegurado não é menor: é o da qualidade de vida, do espaço público e do patrimônio histórico e cultural. É uma luta que representa nosso presente e futuro.

Coloco aqui uma pergunta que tenho me feito e que compartilho para chegar a uma resposta: como transformar todo o ativismo das redes em braços, pernas e vozes? Penso e não imagino viva alma contrária à ocupação do Cais Mauá. Acreditem, não existe apenas o abandono (como hoje) ou o “combo” cais-shopping-espigões (como o proposto). Existem alternativas, existem possibilidades, existem exemplos de aproveitamento do espaço que aliam comércio e cultura, preservação e modernidade. Mas precisamos nos manifestar, dizer que queremos participar e que nos interessa, e muito, o que acontece com nossa cidade.

Aguardo sugestões, braços, pernas e vozes para trazer de volta a Porto Alegre das lutas e da construção da cidadania, tão necessária nestes tempos bicudos!

Texto inicialmente publicado no Portal Meu Bairro, em 03/08/2015.

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